sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O PERIGO DO SENSACIONALISMO...

A reportagem da Record traz à baila um assunto já há muito debatido no meio evangélico tanto brasileiro com americano. David Wilkerson já criticava fortemente a chamada unção de Toronto em suas pregações. Como é um assunto requentado alguns acham que não deveria ser abordado ou mesmo não poderia ser tratado em horário nobre por uma rede de televisão ligada a uma igreja. Mas aqueles que discordam creio que o fazem porque a reportagem atinge em cheio práticas estranhas à Palavra de Deus e que são corriqueiras no meio neopentecostal. Sei que muitos se levantarão para criticar a reportagem que a meu ver pecou por não ter ouvido cientistas da religião, pastores representativos ou mesmo líderes pentecostais, mas mexe na ferida aberta de um movimento gospel alienado do centro da fé cristã. Essas práticas estapafúrdias deveriam passar longe do arraial do Senhor, mas é exatamente dentro dele que se manifestam porque aproveitam o vazio espiritual e teológico existente no mesmo. Pensemos em alguns pontos:
  • Por que esse movimento não foi combatido quando do seu nascedouro ou entrada no Brasil?

Creio que mais uma vez os fatores desconhecimento, financeiro e ignorância bíblica e teológica prevaleceram. A aceitação acrítica que tudo que vem de fora somente reflete um grande complexo de inferioridade reinante na mentalidade das classes sociais brasileiras não somente evangélica, mas na política e acadêmica. Na década de 60 a frase do embaixador do Brasil nos Estado Unidos virou referência da subserviência aos americanos pelo governo da ditatura militar: " O que é bom para a América (EUA) é bom para o Brasil". Retratava abertamente pensamento do Destino Manifesto. Essa aceitação acrítica de fenômenos vindos do hemisfério norte implica em inferioridade por nossa parte e superioridade dos outros. Como estes fenômenos enchem igrejas e consequentemente produz aumento nas arrecadaões das mesmas, são pouco reprimidos por aqueles que se sentem à vontade com essas práticas. O aspecto da pouca profundidade teológica por parte da maioria dos líderes neopentecostais proporciona um campo fértil para proliferação dessas bizarrices gospel em solo brasileiro. Nenhuma igreja histórica abraça esses comportamentos como prática eclesiológica ou litúrgica.
  • Por que essas coisas proliferam em nossos meios?
Continuarão a proliferar porque em nome de uma espiritualidade doentia e adoecedora muitos sacrificaram a razão no altar da emoção. Manifestações totalmente irracionais e desprovidade de embasamento bíblico e teológico fazem parte do cardápio oferecido a uma classe social carente de aceitação e significado, que encontra nestes nichos gospel o lugar e momento para se realizarem. Enquanto a igreja não acordar para a necessidade de ter pastores com boa formação bíblica e teológica estará sendo terreno fértil para esses comportamentos. O excesso de consagrações de pastores sem qualquer tipo de formação teológica expressa a pouca importância dada pelas denominações ao ministério pastoral. Assim estabelece-se um grande antagonismo/paradoxo. Se os pastores são aqueles designados por Deus para alimentar seu rebanho e estes não possuem nenhum tipo de formação, logo teremos um rebanho desprovido da Palavra e consequentemente se torna alimento propício para lobos adentrarem em seus meios. Lideranças incautas, ignorantes e não afeitas ao conhecimento propocionam um ambiente adoecedor para seus fieis. Cristo não é formado nestes e se tornam presas do improvável.
  • Por que a dicotomia entre saber e espiritualidade reina em nosso meio?
Foi nos vendido a idéia que cultura e espiritualidade são incompatíveis. É comum no meio evangélico a afirmação que aquele que se dedicou aos estudos não encontra correspondente na espiritualidade. Como se Deus, sua Palavra e seu Espírito fossem avessos ao conhecimento, o que seria um contracenso, pois, Deus dotou o homem de capacidade de aprendizagem. Como o saber leva tempo e investimentos até financeiros muitos buscam em uma espiritualidade tipo fast food encurtar caminho para se entender a vontade de Deus ou mesmo demostrarem uma espiritualidade que não possuem. É comum lideranças que vazias do conteúdo celestial fazerem afirmações irracionais e as revestirem com uma verborragia espiritual. Como exemplo temos um vídeo na internet onde uma cantora gospel pega um jarro cheio de óleo e derrama nas pessoas tipificando unção do Espírito e depois imerge contra capas de seus CDS neste jarro profetizando que estes serão multiplicado em diversas línguas como ingles, espanhol etc. Realiza tal bizarrice gospel em nome de um ato profético que seria realizado. Temos na histórica exemplos de saber e unção do Espírito Santo caminharem juntos. No Novo Testamento tivemos Paulo que estudou aos pés de Gamaliel foi cheio do Espírito Santo. Agostinho de Hipona viveu está mesma experiência. Mais recentemente tivemos Jonathas Edward que foi filósofo e pastor vivendo em pleno avivamento no século XVIII, pregando doutrinas calvinistas e catalogando as experiências daqueles que vivenciaram o avivamento. Nunca saber e espiritualidade foram forças antagônicas, mas dentro do equilíbrio foram forças complementares. Pedro diz que os cristãos devem crescer na graça e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo. O teólogo Escocês John Mackay dizia: "Ação sem reflexão é paralizia da razão". Precisamos urgentemente resgatar a máxima dos puritanos referente aos pastores que dizia: "Os pastores devem ser santos e cultos". Por causa dessa máxima e visão ministerial a Universidade de Harvad foi criada para formar os melhores pastores para suas igrejas.
  • O medo de ofender o Espírito Santo.
Muitos aceitam qualquer fenômeno como do Espírito porque não possuem discernimento para distinguir aquilo que procede de Deus, do homem ou do diabo. Acham que o Espírito Santo age de modo irracional e anti-escriturístico. Entendem que por alguém dizer que Deus revelou ou mandou fazer desse dou daquele jeito ou modo nada pode ser questionado. Paulo nos encoraja em I Corintios a julgarmos as profecias e não aceitarmos acriticamente como se fossem de Deus. Tudo aquilo que fere as Escritúras não provem do Espírito Santo que inspirou as mesmas. O Espírito Santo não trabalha contra aquilo que ele produziu, Ele não desacreditaria sua própria iniciativa. Precisamos aqui encontrar o equilíbrio entre investigação e inspiração. O estudo das Escrituras Sagradas nos fazem ver que a obra do Espírito Santo e nos mostrar Jesus Cristo e este glorificado. Tendo isso como ponto de partida ou base tudo fica mais claro. Mas quando alguns afirmam que o Espírito Santo pode fazer qualquer coisa, esquecem-se que Ele não pode anular a si mesmo ou o que inspirou, como se Ele pudesse atropelar a Palavra a todo momento.
  • Acredito que esses comportamentos continuarão até que os bons abram suas bocas e proclamem a verdade.
A igreja, em toda sua história, nunca se omitiu em denunciar os erros que apareceram em seu meio. Já no início do cristianismo pós apostólico apareceu Montano (150-172) com seus pensamentos. Montano fundou um movimento fanático que vivia de revelações proféticas sem fundamentação bíblica, não havia uma exegese e interpretação sólida. Acompanhavam-lhe duas profetizas chamadas Priscila (ou Prisca) e Maximila que afirmavam que o Espírito Santo falava através delas. Fez forte oposição às lideranças eclesiásticas dentre outros ensinos. A igreja reagiu contra e o declarou herege. Enquanto aqueles que possuem o poder de mídia, as denominações históricas não vierem a público e os centros acadêmicos não se pronunciarem, essas coisas proliferaram como erva daninha em nosso meio.
  • Grandes Igrejas que deveriam ser baluartes da verdade sucumbiram diante do irracional.
Esperava-se que grandes igrejas e movimentos fossem os detentores e guardiães da Palavra. Esperava-se que os tais cumprissem aquilo que o apóstolo Judas nos encorajou a fazer em sua carta ver. 03 "Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos". Mas presenciamos exatamente o contrário. Aquilo que aparentemente é grande nos reservou e nos brindou com péssimos exemplos de anti-espiritualidade e fé. Por praticarem essas bizarrices incentivou um número enorme de congregações menores a fazerem o mesmo. Deveriam ter sido os primeiros a dizerem não a essas inovações gospel e denunciarem o erro que avilta o Evangelho, a igreja e traz descrédito à obra de Deus. Mas adotaram o complexo de avestruz enfiando suas cabeças em seus guetos religiosos e deixando o resto da carcaça para ser achincalhada pela sociedade que cada vez mais não encontra motivos para acreditar na igreja. Porque são grandes possuem maior visibilidade e por isso chamam mais atenção. A sociedade nunca lembrará das igrejas menores que ainda se mantêm fieis ao seus chamados e ao Evangelho. Embora os gigantes esborem-se ainda restam 7000 que não dobraram seus joelhos a Baal.
  • Acredito que o peso de levar o estandarte de Cristo nestes dias será mais pesado.
Acredito que a igreja terá de fazer um sobre esforço para resgatar sua credibilidade diante do noticiado. Acredito que a fé reformada será o sustentáculo da igreja nas próximas décadas como tem sido ao longo do tempo. Acredito que vale a pena sermos cristãos fieis nestes dias, pois, o juizo começa pela casa de Deus. Acredito que nosso Deus levantará um remanescente fiel que honrará seu nome em meio as crises que a igreja viverá.
  • Acredito que o foco será distorcido por alguns ao dizerem que a Universal e seu líder não possuem credenciais para denunciar nada.
Dirão que porque a Igreja Universal estar perdendo membros ou influência a reportagem foi premeditada. Fora os motivos que levaram à reportagem e posso imaginar que sejam muitos e diversificados como briga por audiência, atacar os desafetos de midiáticos para ganhar ibope etc., o fato continua. Como denominação, como manifestação de uma fé sadia ou autoridade espiritual não vejo a Universal apta para nada, mas o fato continua. O que fazer com esses modismos atuais?
  • Alguém precisava ter falado sobre essas coisas. Alguém falou.

Soli Deo Gloria

Pr. Luiz Fernando R. de Souza

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